terça-feira, 23 de junho de 2015

Não sei voar de pés no chão...



Sou como você me vê...posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,depende de quando e como você me vê passar...suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. 
Também sou muito calma e perdôo logo. 
Não esqueço nunca. 
Mas há poucas coisas de que eu me lembre...
Tenho felicidade o bastante para ser doce, dificuldades para ser forte,tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz. 
Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. 
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. 
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. 
Não sei amar pela metade. 
Não sei viver de mentira. 
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre...
Sou uma filha da natureza:quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério.
Sou uma só... 
Sou um ser...a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.

                                                                                                             Clarice Lispector





Pensamento do dia :         "Perdoe aos outros, 

não porque  eles merecem perdão, mas 

porque você merece paz."

imagens via net

segunda-feira, 8 de junho de 2015

... Amor precisa de perdão... amor precisa de AMOR...



Amar se aprende amando


“É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, “solamente”, não basta. Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.”(Artur da Távola)
No que a vida nos mostra diariamente, parece que há um consenso: não existem receitas de bolo quando o assunto é amor. Cada um ama de uma maneira, demonstra e manisfesta esse amor também de maneira única. Naturalmente, a vida também nos mostra que, ao longo dos tempos, vão se “criando” regrinhas para o amor – o que eu particularmente acho muito triste e penoso. Mas continua o fato da vida: não existem regras nem receitas para o amor. Até porque no amor cabem tantos sentimentos que ficaria impossível dizer isso ou aquilo sobre o amor que cada um vai dar e receber. Outro fato: o amor sozinho não dá conta. É preciso convocar uma legião de sentimentos e de ações que o sustentem, como o respeito, a confiança, a lealdade, a ética – primeiro cada um consigo mesmo, depois para o outro, pois quem não tem essas questões em si, não poderá ter com o outro, visto que não podemos oferecer o que não temos.
Mas muitas outras questões estão em jogo quando o assunto é amor e uma delas – desculpem-me, mas não posso fugir à colocação dessas questões – é o que cada um individualmente aprendeu e internalizou em sua subjetividade, na constituição primordial de seu psiquismo. Já sabemos que muitos problemas afetivos e relacionais estão ligados às representações de nossa mais tenra idade, lá nos primórdios da nossa existência. Então, a primeira investigação deve passar por aí. Também sabemos que nossos modelos parentais foram os que nos deram as primeiras “aquisições” de nossos sentimentos e eles são as bases de como vamos lidar com os nossos relacionamentos quando adultos. No meio desse caminho e ao longo dele muitas coisas podem acontecer e algumas das que mais trazem consequências posteriores é o fato de poderem surgir rejeições, frustrações e outros sentimentos que não encontraram seu lugar de inscrição no psiquismo e deram lugar ao desamparo psíquico e emocional, que também está na base da constituição da subjetividade.
E ainda precisamos levar em conta que sem um lugar de inscrição no psiquismo, toda a questão da constituição da subjetividade e do afeto principalmente, fica como que “levitando”, sem encontrar “seu lugar”, o que pode causar imensas dores emocionais e uma afetividade completamente comprometida ou distorcida no futuro, gerando grandes dificuldades relacionais verdadeiras e profundas e ainda temos outras frustrações e rejeições da infância e da adolescência – chamada por muitos de “a segunda infância” – que, dependendo do caso e da dinâmica psíquica de cada um podem disparar o gatilho de todas essas questões que, de acordo com o menor ou maior grau de comprometimento, podem inclusive ter sido abolidas da consciência – mas nem sempre – indo para o inconsciente, tamanha a dor, tamanho o choque e até o trauma e, sendo assim, obviamente a pessoa nem se dá conta das questões que o acometeram e nem sequer sabe que foi acometido por algumas dessas questões.
A princípio, para toda relação – e o amor é o que mais precisa dele – o autoconhecimento é fundamental. Quem conhece-se melhor é capaz de lidar melhor também com o outro, com as próprias demandas e com as demandas do outro e da vida e tentar melhor gerenciar tudo isso. Então, voltando ao amor pura e simplesmente – como se ele pudesse ser tão puro e tão simples assim – a questão veemente é que, cada um dá e recebe o que pode, o que consegue. Não existe certo e errado. Podem existir excessos e faltas e ambos devem ser investigados e, se possível, cuidados, mas cada um só pode dar o que tem, o que aprendeu, o que internalizou, o que foi de sua própria constituição. Mas quanto aos milhares de sentimentos convocados para essa tarefa, estão também o autoconhecimento, uma honestidade irrepreensível consigo mesmo e com o outro – naturalmente se não houver nenhuma patologia envolvida – a cumplicidade e a tolerância consigo e com o outro e milhares de questões que vamos aprendendo, porque amar também é aprender. Aprender, dentre várias coisas que, tudo acontece dentro de nós primeiro. Depois podemos ter para oferecer, pois, mais uma vez: ninguém pode oferecer o que não tem. O amor também precisa de cuidados diários… de ambos, sempre.
É aí que a perspectiva de se aprender a amar amando vai ganhando corpo: é somente no dia a dia, com todas as idealizações e, não obstante algumas frustrações e decepções, mas também com todas as possibilidades de transformações, que o verdadeiro amor nasce e encontra terreno fertilíssimo para se desenvolver, amadurecer e seguir forte e bonito. Nessa construção diária o que vemos é que precisamos muito mais que amor somente para que a relação possa se sustentar em bases realmente sólidas. Sim, amor “solamente” não basta. Amor precisa de coragem, de boa vontade e boa dose de ousadia para acontecer, para não cair no lugar comum, para passar pelas provas da convivência e florescer diariamente.
Amor precisa de amor próprio. Amor precisa de respeito, afeto e confiança mútuos e genuínos, precisa de pé no chão – e pé fora dele também. Amor precisa de conversas – conversas sérias, conversas não sérias, conversas boas, muitas conversas. Amor precisa de sinceridade e honestidade inquestionáveis com o outro e principalmente consigo próprio. Amor precisa de retidão de caráter, de ética, de dignidade e de lealdade. Amor precisa de admiração. Amor precisa de comprometimento. Amor precisa de sorrisos largos e gargalhadas soltas. Amor precisa de espontaneidade, de leveza e de autenticidade. Amor precisa de muita afinidade e de sintonia fina. Amor precisa de projetos, planos e sonhos em comuns. Amor precisa de muitas semelhanças e algumas diferenças. Amor precisa de viagem – de carro, de avião, de trem, de navio e até mesmo de viagem sem sair do lugar. Amor precisa de novidades e inovações, mas precisa muitíssimo também da rotina e do cotidiano. Amor precisa de códigos inventados e pactos secretos que só o casal sabe o que significam.
Amor precisa de almoxarifado e lixeira. Amor precisa de perdão. Amor precisa de olhar, de toque, de palavra, de boca, de gestos, de sede, de sofreguidão, de urgência, de paz, de inquietude, de poesia e de silêncio. Amor precisa de mãos dadas, abraços apertados, rostos colados e corpos ardendo de desejo. Amor precisa de busca constante. Amor precisa de sol, de água, de luz e de ar fresco. Amor precisa de revisões e renovações. Amor precisa de recriação. Amor precisa de subjetividade e inconsciente. Amor precisa de pele e química. Amor precisa de individualidade, de um pouco daquela solidão boa e necessária, mas precisa muito mais de cumplicidade, de doação, de entrega, de união. Amor precisa de alma. Amor precisa de amizade, de confidências e de segredos juntos. Amor precisa de cuidados, de carinhos e de adivinhação. Amor precisa de postura bonita e justa quando as opiniões divergirem ou o sangue esquentar. Amor precisa de aceitação e de tolerância, principalmente de cada um em relação a si mesmo. Quem não aceita as próprias imperfeições e não tem tolerância com as próprias limitações, provavelmente não saberá como fazer quando o outro se apresentar dessas maneiras. Amor precisa de muitas estórias juntos para se contar a si mesmo. Amor precisa de sabedoria, de elegância, de beleza e, sobretudo e irrefutavelmente de inteligência.
Em suma, amor precisa de AMOR. Seja como for – porque ninguém vai poder mesmo fugir às loucuras maravilhosas ou doidivanas que o amor traz em si – se você quiser amar – muito ou pouco, para sempre ou não – saiba que dentre toda a literatura a respeito, dentre todos os seríssimos estudos de pessoas altamente capacitadas, dentre todas as teorias e dentre todos os postulados… além, apesar e sobre todas as perspectivas e expectativas, amar ainda se aprende de uma única forma: amando.

 Veruska Queiroz